Angustia e dor

Acordei subitamente no meio da noite. Suando frio, tentava lembrar os fragmentos do sonho. Nao conseguia. Lembrava apenas de estar caindo e sentir um vazio. Olhei para o lado e notei que estava sozinho na cama. O quarto todo fechado e sombrio me angustiava. Virei para o lado e vi os quadros de amigos e amores me encarando, agora estavam todos longe. Talvez me acusando de algo que nao fiz ou nao disse. Nao conseguia encarar aqueles olhares e fechei os olhos. Abri novamente e me deparei com duas cadeiras no canto do quarto. Duas? Lembrei que agora so precisava do singular e sofri muito com isso.
O sono nao vinha... Fiquei sufocado com a angustia do quarto, com minha tristeza e covardia. Sou covarde por nao suportar essa dor, nao me convenco que ela eh necessaria para me fortalecer.
Recordo a ultima vez que ela se olhou neste espelho e perfumou-se. Ainda sinto seu cheiro. Flor, madeira, fruta? Nao consigo distinguir a fragrancia, mas sei que eh dela. Nao lembro o motivo que a fez ir embora, talvez minha indiferenca. Estou sem chao, na verdade desde que ela foi embora me sinto flutuando como se nao estivesse aqui, sou apenas uma miragem de mim.
Sinto frio e sono. Tento dormir, mas sonhos confusos invadem minha mente. Ela indo embora, sumindo em meio a nevoa, eu perdido no labirinto, gritando seu nome, sem sair som algum da minha boca.Tremia de frio e nao conseguia respirar, comecei a cair e entao acordei. Mas ao abrir os olhos vi que nada havia mudado, estava novamente envolto em angustias, tristezas e recordacoes que este quarto sempre trara.

Texto desenvolvido com base no quadro Vincent Van Gogh, Quarto em Arles (1889):