22 fevereiro, 2006

As metamorfoses do vampiro
Ela de sua boca de cereja e de asa,
Torcendo-se assim como a cobra numa brasa,
E os seios a moldar a dura barbatana
Do espartilho, falou impregnada de havana:
"Trago os labios molhados e possuo a ciencia
De perder por um leito a minha consciencia.
Eu seco todo choro em meus seios divinos,
E faco rir os velhos tal qual meninos.
Eu substituo, aos que possam ver-me sem veus,
O plenilunio, o Sol, as estrelas e os ceus!
Eu sou tao douta na volupia, caros sabios,
Quando um homem afogo no mar dos meus labios,
ou entao quando entrego as mordidas meu busto,
Timido e libertino e fragil e robusto,
Que os anjos sobre o meu desmaiado colchao
Iriam ter em mim a sua danacao".
Quando ela me sorveu dos ossos a medula,
E tao
languidamente a buscou minha gula,
Viu o beijo de amor que nela coloquei,
Flanco viscoso de odre a transbordar de pus!
Meus dois olhos fechei, num
susto de fobia,
Depois quando os abri a viva luz do dia,
Junto a mim, em
lugar do manequim tao langue,
Que ali estava a estuar da provisao de sangue,
Tremeu de um esqueleto a visao tao daninha,
Ainda a emitir os sons de
distante ventoinha
Ou de triste varao que prende a tabuleta
Que oscila
ao vento pela noite fria e preta.

(As Flores do Mal - Charles Baudelaire)

Baudelaire eh um mestre da poesia. Seus textos sao repletos de sons, cheiros,
sensacoes que nos transportam para dentro de sua historia. Seus temas tambem sao
maravilhosos: preces, vampiros, vinhos, beleza...

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